Uma megaoperação da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) mira, nesta sexta-feira (28), uma rede criminosa associada ao Primeiro Comando da Capital (PCC), que expandiu suas atividades para dentro do Legislativo em Goiás e Mato Grosso do Sul. O grupo operava um esquema sofisticado de tráfico interestadual de drogas e lavagem de dinheiro, movimentando cerca de R$ 300 milhões em apenas três meses.
Com base no Distrito Federal, a investigação mobilizou 450 agentes para cumprir 19 mandados de prisão temporária e 80 de busca e apreensão em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Rio Grande do Norte e Alagoas. No DF, as buscas ocorrem em várias regiões administrativas, incluindo Planaltina, Ceilândia, Gama e Taguatinga.
Esquema milionário e lavagem de dinheiro
A quadrilha estruturou um complexo sistema de movimentação financeira usando uma fintech sediada em São Paulo, reduto do PCC. Além disso, utilizava empresas de fachada para dar aparência de legalidade aos recursos ilícitos. Entre os bens bloqueados pela Justiça estão 17 veículos, sete imóveis e contas bancárias ligadas a uma dessas empresas, que teria sido responsável por movimentar a maior parte da quantia bilionária.
As investigações apontam que integrantes da organização ostentavam alto padrão de vida. O chefe da facção no DF, por exemplo, administrava uma propriedade rural em Planaltina voltada à pecuária, mas atualmente vive em Florianópolis. Em Goiás, membros do núcleo financeiro possuíam imóveis e carros de luxo. No Nordeste, criminosos residiam em um apartamento sofisticado no bairro de Ponta Verde, em Maceió.
Influência no Legislativo
A infiltração da quadrilha no poder público ficou evidente com a nomeação do filho de um casal investigado para um cargo na Câmara Municipal de Goiânia. Aos 19 anos, ele foi indicado para assessor parlamentar em dezembro de 2023. O casal, que vivia com ostentação em Goiânia, usava duas empresas — uma transportadora e uma autopeças — para lavar dinheiro do tráfico. A polícia descobriu que uma delas foi criada com documentos falsos, reforçando o caráter fraudulento do esquema.
A reportagem entrou em contato com a Câmara de Goiânia e aguarda resposta.
Conexões internacionais
As investigações também apontaram ligações da facção com um traficante internacional conhecido como Thiago Gabriel Martins da Silva, o Especialista, preso na Bolívia desde 2023. Líder do PCC em Campo Grande (MS), ele foi capturado com granadas de uso restrito e uma aeronave carregada com cocaína.
Familiares de Silva serviam como laranjas na movimentação financeira do grupo. Um deles, suplente de vereador em Campo Grande, ficou desaparecido por dois meses, reaparecendo apenas em janeiro deste ano.
O esquema era tão estruturado que criminosos se referiam a um de seus núcleos como “Sinaloa”, em alusão ao cartel mexicano. Caso condenados, os investigados podem pegar até 30 anos de prisão por organização criminosa, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.