As investigações, lideradas pelo delegado Daniel Oliveira, apontam que as vítimas sofreram danos estéticos e financeiros, com alguns casos exigindo novas intervenções corretivas. Além de deformações físicas, pacientes relataram impactos psicológicos severos, como depressão e ansiedade.
Depoimentos de pacientes relatam sequelas e erros
Um dos pacientes, o empresário Marcelo Santos, descreveu o trauma ao passar por uma cirurgia de redução nasal. Segundo ele, o procedimento foi realizado sem anestesia adequada, causando dor intensa. “Senti rasparem o osso, tirarem pele e cartilagem. Foi desesperador”, afirmou. Após complicações, Marcelo precisou de uma segunda cirurgia, também malsucedida, e agora lida com problemas de saúde decorrentes do procedimento.
Outra vítima, a psicóloga Vânia Ribeiro, investiu cerca de R$ 20 mil em uma harmonização facial, mas afirma ter recebido óleo industrial em vez de ácido hialurônico, como prometido. Exames da Polícia Científica confirmaram a substância usada. “Fiquei em desespero. Furei minhas pálpebras tentando retirar o produto”, relatou.
Funcionamento irregular e denúncias de má prática
Segundo a Polícia Civil, a clínica atraía clientes por meio de preços abaixo do mercado, cobrando até seis vezes menos por procedimentos estéticos. Um dentista da clínica admitiu em depoimento que os baixos custos resultavam em alta demanda, com agendamentos apertados e até oito cirurgias realizadas em um único dia. Ele também revelou ter aprendido os procedimentos na prática, sem treinamento formal adequado.
As condições do local eram insatisfatórias, com uso de bisturis cegos, ausência de esterilização adequada e falta de habilitação dos profissionais. As duas unidades da clínica, em Goiânia e Anápolis, foram fechadas pela Vigilância Sanitária, que identificou pelo menos 18 irregularidades, incluindo a ausência de alvará sanitário na unidade de Anápolis.
Esquema de falsificação e venda irregular de medicamentos
As investigações também revelaram um esquema de falsificação de receitas médicas. O casal é suspeito de usar documentos falsificados para adquirir medicamentos de forma ilegal, que eram armazenados inadequadamente e revendidos a outras clínicas e pacientes. Uma responsável técnica admitiu ter assinado mais de 100 receitas em um único dia.
Defesa contesta acusações
A defesa de Karine Gouveia e Paulo César Dias negou as acusações e alegou irregularidades no processo, incluindo vazamento de informações sigilosas e uso indevido de prisões temporárias. Segundo os advogados, as acusações precisam ser analisadas sob o devido processo legal.
Polícia refuta alegações de abuso
Em nota, a Polícia Civil de Goiás afirmou que a investigação segue os parâmetros legais e se baseia em elementos consistentes coletados ao longo de mais de um ano. A instituição reforçou seu compromisso com a justiça e a proteção da sociedade, negando qualquer prática abusiva durante a apuração.
O caso segue em investigação, e os suspeitos poderão responder por crimes como lesões corporais gravíssimas, falsificação de documentos, organização criminosa e crimes contra o consumidor.
Nota da defesa do casal:
“A defesa Karine Gouveia e Paulo César, Romero Ferraz Filho e Tito Souza do Amaral e Caio Victor Lopes Tito, respectivamente, acrescenta que os vazamentos seletivos de informações sigilosas, as quais sequer a defesa habilitada nos autos possui acesso, continuam. Após o devido acesso amplo, conforme a Constituição Federal e a Lei preveem, acredita que os fatos serão esclarecidos no seu tempo e com os documentos necessários.
- Acusações devem ser submetidas ao crivo do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório. Não raras são as vezes em que a Polícia Civil (PC) acusa, mas que, ao fim do processo, a Justiça entende diferente.
- A Autoridade Policial, nos vazamentos seletivos, após mais de 30 dias de prisão e 1 ano de investigações, não conseguiu comprovar o uso de PMMA e outras substâncias na Clínica. Ao contrário, a fim de atingir depoimentos que possam contribuir com a hipótese acusatória – e não a apuração de fatos, como deve ser no Estado de Direito –, requer prisões temporárias sem contemporaneidade; sem necessidade; apenas com narrativas que, aos primeiro olhar, constrangem o Magistrado a deferir os pleitos, com objetivo de negociar solturas se houver depoimentos que corroborem com a hipótese acusatória, tanto que quem fala o que se quer ouvir, é solto, quem fala a verdade e ou se vale do direito de permanecer em silêncio, permanece preso. Em passado recente o Decano do Supremo Tribunal Federal (STF), Ministro Gilmar Mendes, considerou que tais práticas se assemelham a “tortura usando poder do Estado”.
- As defesas dos investigados têm denunciado vários abusos e violação de direitos, no entanto, a Autoridade Policial tem se valido de uma prisão sem fundamento real que está sendo utilizada como instrumento de coação para promover investigação clandestina e fora dos parâmetros legais, manchando a credibilidade das instituições e colocando em xeque todo o processo. Independente dos fatos investigados, a sociedade civil precisa estar atenta para que casos como este não se tornem a regra: pessoas sendo condenadas sem julgamento e sem direito de defesa, afinal, não se pode tolerar um Estado que prende primeiro e pergunta depois. Uma investigação que perdura há mais de ano, até agora os investigados não foram ouvidos.”
- Nota da Polícia Civil sobre as alegações da defesa dos suspeitos:
- “A Polícia Civil de Goiás reforça que todas as ações realizadas na investigação em questão seguem estritamente os ditames legais e possuem fundamento em elementos informativos robustos obtidos ao longo de mais de um ano de apuração.
- Após a deflagração da operação, novas vítimas procuraram a autoridade policial, apresentando relatos e documentos que corroboram os indícios já apurados. É importante destacar que o trabalho da Polícia Civil tem como objetivo a busca pela verdade e a proteção da sociedade, sendo pautado pela transparência e pelo cumprimento da lei.
- A instituição refuta categoricamente qualquer alegação de abuso ou irregularidade e mantém seu compromisso com a justiça, respeitando o devido processo legal e os direitos de todas as partes envolvidas.
Goiânia – GO, 21 de janeiro de 2025.
Por Milkylenne Cardoso