Após 20 anos, o grupo Talibã cercou Cabul, capital do Afeganistão, no último domingo (15) e assumiu o controle do palácio presidencial. A transferência do poder foi consolidada com a fuga do atual presidente Ashraf Ghani.
Com a chegada do Talibã, as mulheres do Afeganistão temem perder os direitos sociais e econômicos que conquistaram nas últimas duas décadas, já que o grupo impõe uma interpretação radical e estrita da lei islâmica que restringe severamente os direitos das mulheres.
Logo no primeiro dia após a volta do grupo, já foi possível observar algumas mudanças, como por exemplo nos canais de comunicação.
Segundo a BBC Monitoring, os principais canais de televisão do Afeganistão continuaram suas transmissões depois que o Talibã assumiu o poder, porém, não há mais apresentadoras mulheres, de acordo com a BBC Monitoring.
Outra mudança é o uso de vestidos e maquiagens. Fotos divulgadas nas redes sociais mostram que vitrines com imagens de mulheres sem véu, maquiadas e com vestidos de festa estavam sendo cobertas com tinta.
“Há muitas restrições agora. Quando eu saio, tenho que usar burca (traje que cobre completamente o corpo da mulher, com uma treliça estreita à altura dos olhos), conforme ordenado pelo Talibã, e um homem precisa me acompanhar”, contou, ao BBC Monitoring, uma parteira de Ishkamish, distrito rural com serviços escassos na província de Takhar, na fronteira nordeste do Afeganistão com o Tajiquistão.
Afinal, o que é o Talibã?
Formado em 1994 por militantes islâmicos sunitas que lutaram contra as forças invasoras soviéticas na década de 1980, o Talibã é um grupo político que interpreta de forma literal e radical o Alcorão e foi criado para impor a interpretação da lei islâmica e remover qualquer influência estrangeira no Afeganistão.
Em 1996 tomou o poder, com a promessa de restaurar a paz, e aplicou regras rígidas, principalmente às mulheres, que eram obrigadas a usar burca, não tinham direito à educação, viviam confinadas em casa e não poderiam ir às ruas sem a companhia de um homem.
Atualmente, liderado por Mawlawi Haibatullah Akhundzada, um clérigo religioso sênior da geração fundadora do Talibã, o grupo dominou 90% do Afeganistão até 2001, quando foram acusados de terem participação no atentado do 11 de setembro e protegerem Osama Bin Laden.
Após o ataque das torres gêmeas em Nova Iorque, o Afeganistão foi invadido pelas tropas americanas que lá permaneceram por quase 20 anos. Durante esse período houve guerras onde milhares de pessoas morreram, incluindo civis e militares.
Com a morte de Bin Laden em 2011, o governo Barack Obama (democrata) estipulou alguns prazos para que os militares americanos saíssem do Afeganistão, com o intuito de devolver por completo o poder de seu país ao povo afegão. Em fevereiro de 2020, o então presidente americano, Donald Trump (republicano), assinou um acordo onde afirmava que as tropas deixariam o Afeganistão em 14 meses.
Após prometer evacuar os militares restantes até o 20º aniversário do atentado às Torres Gêmeas (11 de setembro), o atual presidente dos EUA, Joe Biden (democrata), iniciou a ação de retirada dos militares em maio deste ano.
Conforme os militares foram retirados, o grupo Talibã foi avançando no domínio do território afegão. Começaram pelas cidades grandes, até o “cheque-mate” na capital Cabul, o que gerou pânico, fazendo com que milhares de cidadãos tentem deixar o país.
Diferente do passado, o grupo islâmico afirmou que está comprometido com o processo de paz, com um governo inclusivo e disposto a manter alguns direitos para as mulheres.
Segundo o porta-voz Sohail Shaheen, as mulheres ainda terão permissão para continuar sua educação do ensino fundamental ao superior – uma quebra das regras durante o governo anterior do Talibã, entre 1996 e 2001. Ele também afirmou que diplomatas, jornalistas e organizações sem fins lucrativos podem continuar operando no país. “Esse é o nosso compromisso: fornecer um ambiente seguro para que eles possam realizar suas atividades para o povo do Afeganistão”.