Conhecido como Da Cunha, o delegado da Polícia Civil de São Paulo (PCSP), Carlos Alberto da Cunha, foi indiciado por simular operações e forjar prisões com o intuito de produzir conteúdo para seu canal no YouTube.
As gravações foram feitas em julho do ano passado. No vídeo, Da cunha aparece executando uma operação de resgate, na Zona Leste de São Paulo. A vítima havia sido sequestrada um dia anterior por membros de uma facção criminosa e iria passar por um “tribunal do crime”, mas Da Cunha liberta o refém e prende o suspeito.
Atrás das câmeras
O jornal Folha de S.Paulo ouviu depoimentos de outros integrantes desta operação e eles disseram que tudo foi uma encenação. Quando Da Cunha chegou ao local, a vitima já havia sido resgatada e o suspeito já estava preso, portanto o delegado quis refazer o momento em que a vítima é encontrada no cativeiro. Para convencer a vítima, Da Cunha informou que era para produção de provas. Então ele colocou a vítima e o sequestrador dentro do cativeiro novamente. As testemunhas também confirmaram que essa atitude era frequente.
Confissão
Na semana passada, Da Cunha confessou em seu podcast que realmente foi simulada essa operação, mas segundo ele estava apenas produzindo provas. “Essa prova é produzida pelo delegado de polícia. Então, assim, foi uma decisão minha no momento. A ‘cana’ [prisão] foi dada e eu quis novamente registrar a cana. Isso acontece muito em inquéritos de homicídios”, explicou ele.
Em entrevista ao portal G1, Da Cunha afirmou que o vídeo tratou-se de uma reprodução simulada do crime para produzir provas que ele, como autoridade, teria poder para autorizar. Ele cita o art. 7º do Código de Processo Penal: “Art. 7º – Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública”.
PCSP
A Polícia Civil do Estado de São Paulo esclareceu, por nota, que o delegado licenciou-se do cargo em 16 de agosto de 2021 e responde a vários procedimentos administrativos disciplinares junto ao órgão corregedor da instituição.
O delegado foi afastado das ruas, em julho, após declaração contra a polícia. Em seguida ele pediu licença de dois anos da Polícia Civil.