Segundo senadores houve mentiras e contradições durante o depoimento do ex-ministro da saúde, Eduardo Pazuello, à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, nesta quarta-feira (19).
Considerado o depoimento mais importante, até agora para a cúpula da CPI, o ex-ministro explicou sobre o processo de aquisição de vacinas, as negociações sobre vacina com a farmacêutica Pfizer, as informações repassadas ao presidente da República, a atuação da pasta sobre o tratamento precoce e o colapso do oxigênio em Manaus no início do ano.
Após Pazuello depor, o relator Renan Calheiros afirmou ser necessário contratar agências que fazem checagem de fatos para ajudarem no trabalho da comissão. “Tá ficando chato, num caso desses [o de Pazuello], por exemplo, você ficar falando: ‘Olha, isso é uma mentira’, ‘O senhor não respondeu’, ‘Por favor, seja objetivo’. Isso é uma coisa que cansa e deixa a gente um chato de galochas. É melhor que tenha alguém fazendo isso com rapidez”, afirmou Renan.
Segundo Renan, assim que o general voltar a depor, nesta quinta-feira (20), irá contar todas as mentiras e contradições de Pazuello. “Ele talvez não tenha contado todas as vezes, tenha perdido a conta. É muita coisa.”, afirmou o relator.
O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues, afirmou que perderão muito tempo na agenda caso tenham que chamar testemunhas para constatar todas as contradições do ex-ministro. “Teríamos de acarear com a Pfizer, com o Butantan, com o secretário de Saúde do Amazonas. Se for acarear com todos, acabava a CPI só com acareações”, disse ele.
De acordo com a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), Pazuello teria mentido sobre o envio da cloroquina à Manaus (na época do colapso na saúde), e também, sobre as tratativas com o Butantan por doses da CoronaVac.
“Documentação feita pelo próprio Ministério da Saúde mostra claramente a manifestação de interesse, por parte do Ministério da Saúde, de compra da CoronaVac. O presidente Jair Bolsonaro fala, no dia seguinte, que não vai comprar coisa nenhuma porque é da China, e, depois, o ministro diz: ‘Olha, o presidente manda, e eu obedeço'”, declarou Eliziane.
Amazonas
Em seu depoimento, Pazuello afirmou que o fornecimento de oxigênio era de responsabilidade do governo estadual e não federal. Pazuello afirmou também que foi informado sobre a crise em Manaus, no dia 10 de janeiro, porém, o presidente e o vice-presidente da CPI apresentaram dados contrários.
De acordo com o ex-ministro, o secretário de Saúde do Amazonas, Marcellus Campelo, havia alertado Pazuello no dia 07 de janeiro, ou seja, três dias antes. “Eu quero alertar Vossa Excelência que a data que o secretário de Saúde diz que falou ao telefone foi dia 7 de janeiro”, afirmou Omar Aziz.
O senador pelo Amazonas, Eduardo Braga (MDB), também se manifestou dizendo: “Presidente, é preciso dizer ao povo brasileiro, sob pena de nós estarmos aqui sendo coniventes com uma informação errada, mentirosa: não faltou oxigênio no Amazonas apenas três dias. Faltou oxigênio por mais de 20 dias. É só ver o número de mortos, é só ver o desespero das pessoas tentando chegar ao oxigênio”.
Cloroquina
O ex-ministro também foi questionado sobre a recomendação do uso da cloroquina e afirmou que, em momento algum, o presidente Jair Bolsonaro deu ordens diretas sobre o tratamento precoce que envolvesse o uso desse medicamento.
Renan Calheiros também questionou sobre a criação da plataforma “TrateCov”, do Ministério da Saúde, que recomendava o tratamento precoce a pacientes com sintomas que podem, ou não, ser da covid-19, inclusive, com a indicação de cloroquina.
Pazuello afirmou que o aplicativo foi apenas uma sugestão da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, e que nunca chegou a ficar ativo. Porém o aplicativo ficou disponível mas foi tirado do ar, no dia 21 de janeiro.
No dia 19, Pazuello também participou do lançamento do aplicativo em Manaus, o evento foi registrado pela Tv Brasil, emissora patrocinada pelo governo federal. Segundo Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI, o estado foi usado como “cobaia” da ferramenta.
“Isso aí é crime contra um estado, isso é crime contra as pessoas que moram na minha cidade. É cobaia, sim”, declarou Aziz.
Vacina
Outro questionamento que Pazuello recebeu foi sobre as tratativas para compra de doses da vacina CoronaVac, da chinesa Sinovac, produzida no Brasil pelo Instituto Butantan. No ano passado, em outubro, Bolsonaro desautorizou o protocolo de intenção de Pazuello para a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac.
Mesmo com as declarações do presidente em público, Pazuello afirmou que o presidente “nunca mandou” desfazer nenhum contrato ou acordo. Segundo o ex-ministro o desentendimento entre Bolsonaro e o prefeito de São Paulo, João Doria, foi apenas por questões políticas.
“Quando ele se pronuncia, quando ele recebe uma posição de um agente político de São Paulo, ele se posiciona como agente político também daqui para lá. Então, eu queria dizer que a posição de agente político dele ali não interferiu em nada do que nós estávamos falando com o Butantan”, disse Pazuello.
O senador Rogério Carvalho (PT-SE) rebateu a fala de Pazuello e disse: “O ex-ministro está fabulando. Todas as suas ações passaram pelo crivo e aprovação prévia do Bolsonaro. Lembrem o episódio quando foi rasgado o acordo com o Butantan: ele foi desmentido ao vivo pelo Bolsonaro. Tudo que ele está falando que fez não é verdadeiro. Quem o controlava era o Bolsonaro e seus generais”.